Fates Prophecy – o baterista Sandro Muniz fala sobre a carreira da banda
Nas
últimas três décadas o heavy metal sofreu muitas transformações. Vários novos
segmentos surgiram na cena mundial. Mas, muitas bandas, inclusive brasileiras,
mantiveram-se firmes no modelo de metal forjado por medalhões como Iron Maiden,
Judas Priest, Saxon, Accept, Diomand Head dentre outros. E, por conta de novas
tendências, como o thrash, death, doom, prog e outros, o padrão de heavy metal
concebido na segunda metade dos anos 1970, ganhou o rótulo de tradicional. E no
Brasil, um dos maiores representantes desta escola é a banda paulistana Fates
Prophecy. Após completar mais de duas décadas de atividades, a banda lançou ano
passado seu quarto álbum, “The Cradle of Life”. Para falar um pouco da
trajetória da banda, o último disco e os planos futuros, a Ready to Rock
conversou com o baterista Sandro Muniz.
Sandro
Muniz- Na verdade não conseguimos atingir
todos os objetivos que queríamos, mas com certeza chegamos a um nível do qual
foi superior ao que esperamos (levando em condição o mercado atual da música
pesada) afinal estamos a mais de 20 anos na ativa, quatro álbuns lançados,
participação em um tributo americano ao Iron Maiden, muitos shows pelo Brasil e
ainda temos muita lenha pra queimar.
RR - “The Cradle of
Life” é o quarto álbum da banda. Gostei muito do nível das composições. Como se
deu a produção do disco?
Sandro
- Esse foi o nosso primeiro trabalho aonde a produção foi
toda da banda. Desde o início a ideia era de produzirmos o álbum justamente
porque queríamos fazer algo muito criterioso, não importando o tempo que
levasse para compor e gravar, trabalhando com um produtor seria mais difícil de
conciliar agendas e de fazer tudo como queríamos. A questão de produzir no
final é bem mais difícil, pois o Paulo e o Fernando acabaram tendo bastante
trabalho além da parte deles como músicos. O Paulo sempre se interessou por
todos os aspectos da gravação dos nossos álbuns anteriores, ele só não tinha um
conhecimento tão grande na parte técnica e operacional, então foi um desafio
nesta parte, também no sentido de tentar extrair o melhor de cada músico da
banda e principalmente em fazer com que o álbum tenha um padrão alto de acordo
com a banda, mas acredito que o Paulo e o Fernando fizeram um bom trabalho
neste sentido.
RR - Músicas como “24-7 To Death” e “Unbeliever”
mostram um Fates Prophecy diferente, apostando num andamento mais veloz. Essa
mudança foi algo que vocês sentiam necessidade?
Sandro
- Na verdade sempre tivemos músicas rápidas nos nossos
álbuns, exemplo disso são as músicas “Time to Live” e “The Preacher” (do álbum “Into
the Mind”), a “Beast Within” (do álbum “Eyes of Truth”) e no álbum “24th
Century” temos as músicas “Insomnia” e a “Beyond Good and Evil”. Nós
simplesmente mantivemos as características básicas do Fates Prophecy.
Sandro
- O álbum é baseado no tradicional mesmo, porém é bem diferente de tudo que já
fizemos. A banda sempre teve uma preocupação em ser atual, desde a parte lírica
até sonoridade, então o álbum tem basicamente a identidade da banda, mas ao mesmo
tempo está soando bem diferente, mais pesado em alguns momentos e em outros com
texturas e climas diferentes dos álbuns anteriores.
RR - O CD físico traz o
cover do Crimson Glory, “In Dark Places”. (N.E. no álbum anterior a banda fez
uma versão para “Rock You Like a Hurricane”, do Scorpions). Porque a escolha
dessa música?
Sandro
- Na verdade esse cover foi gravado para um álbum tributo ao Crimson Glory que
seria lançado na Europa, e a escolha da música já veio deles, foi um fã nosso
na Europa que nos colocou na jogada, e gostamos bastante do resultado final. Os
vocais dessa música inclusive foram gravados por um vocalista/amigo nosso, o
Paulo Lara (ex-Cromlech, de Rio Preto, hoje o músico é radicado nos EUA). No
álbum anterior gravamos o cover do Scorpions sim.
RR - Como você sentiu a
repercussão do vídeo “New Degeneration”?
Sandro
- O vídeo foi muito bem recebido pelos fãs, pelo público em geral e a mídia
especializada. Levando em consideração que o vídeo assim como o álbum foi todo
produzido pela banda. Ele foi filmado pelo baixista Rodrigo Brizzi e a esposa
dele, a Debora, e foi todo editado pelo Rodrigo.
RR - O álbum foi
inicialmente disponibilizado para download, para depois sair em formato físico.
Como foi essa experiência? Seria o formato ideal pra quem faz músicas nos dias
de hoje?
Sandro
- O formato ideal com certeza é sempre o físico. O público em geral, e
principalmente os fãs de metal sempre preferem o material físico, eles
colecionam, compram, gostam de devorar o encarte. Quando o álbum ficou pronto,
as propostas que recebemos para lançamento não foram do nosso agrado e se fosse
para dar o álbum de graça para alguém que fosse para os fãs, por isso o
disponibilizamos na época até fecharmos contrato com a Arthorium Records, que
lançou o álbum da maneira que queríamos.
RR - O disco saiu oito
anos depois do "24th Century". Porque um hiato tão grande?
Sandro
- Nós queríamos ter lançado esse álbum muito antes desses oito anos, mas vários
imprevistos aconteceram, entre horários de estúdio, gravação entre tantos
outros fatores, até mesmo internos na banda, e outros contratempos que
ocorreram individualmente com alguns integrantes na época, como separação,
nascimento de filhos.
RR - Quem mais compõe na
banda?
Sandro
- O Paulo Almeida é o compositor principal da banda, 98% do material composto
pela banda foram feitos por ele e algumas parcerias com outros integrantes.
RR - Como anda o
movimento do Fates em termos de shows?
Sandro
- Shows atualmente tem sido um assunto delicado. Convites nós recebemos todas
as semanas, mas propostas de shows de verdade são poucas. Não somos
“estrelinhas”, mas depois de 20 anos com certeza não fecharemos shows sem a
condição básica (cachê + transporte + alimentação). Com isso a agenda acaba não
sendo como gostaríamos que fosse, mas temos certeza de que o mercado vai
melhorar agora em 2015, já temos algumas datas em negociação.
RR - Qual projeção você
faz do futuro da banda?
Sandro
- Para 2015 pretendemos continuar fazendo shows divulgando o álbum “The Cradle
of Life” e queremos já começar a trabalhar com material novo.
RR - Por muitos anos,
várias pessoas diziam que a música Fates Prophecy se assemelhou muito ao
trabalho do Iron Maiden. Como você lida com isso? De forma elogiosa ou
ofensiva?
Sandro
- Para nós sempre foi um elogio sermos comparados a uma das maiores, senão a
maior banda de heavy metal de todos os tempos. Nunca nos incomodou, Iron Maiden
sempre foi uma influência dos músicos da banda, mas basta ouvir os quatro
trabalhos do Fates Prophecy e você verá que essa semelhança ficou lá no
primeiro álbum, nós conseguimos construir a nossa própria identidade.
RR - No começo da
história da música pesada no país, lá pelos idos dos 1980, os fãs curtiam
"rock pesado" e não havia tanta subdivisão. Trinta anos depois, tudo
se dividiu, até o tipo de público. Você acredita que aquele espírito de união
ainda voltará um dia na cena?
Sandro
- Na verdade não acho que a união se desfez, mas como temos tanta subdivisão,
como acontecem eventos de heavy metal todos os finais de semana, é normal o
público também subdividir, isso aconteceu naturalmente. A diferença que vejo
hoje que é muito mais clara é a falta de interesse do público pelas bandas
nacionais. Nos anos 80 as pessoas iam aos shows muitas vezes sem nem saber quem
estaria tocando, mas iam no intuito de conhecer a cena, me lembro bem dos shows
no Black Jack (casa paulistana dos anos 80/90) onde sempre tocávamos e a casa
estava sempre cheia, tanto de fãs da banda quanto público novo. Hoje as pessoas
não saem de casa para ir a shows e as que saem, como falei antes, estão sempre
acontecendo muitos shows ao mesmo tempo e isso acaba pulverizando o público.
RR- Como você enxerga o
momento das bandas de metal tradicional no Brasil hoje em dia?
Sandro
- Eu vejo o mesmo que sempre vi, temo altos e baixos como sempre tivemos, nunca achei que houvesse
o momento certo, mas se o trabalho de uma banda de metal tradicional for bom, indiferente da época, o público vai
querer, vai comprar, vai ouvir.
RR - Fique à vontade pra
deixar um recado aos nossos leitores.
Sandro
- Gostaria de agradecer a você Júlio e ao Ready to Rock pelo espaço cedido para
podermos falar um pouco mais da nossa trajetória. Agradecer aos nossos fãs,
pois sem eles não estaríamos aqui até hoje e agradecer a todos que estão lendo
essa entrevista, é por vocês que estamos na ativa e com certeza ainda estaremos
por quanto tempo tiver público, sem vocês a cena não existiria, por isso nosso
MUITO OBRIGADO. See you on the road...!!!
Contatos com a banda no link: https://www.facebook.com/fatesprophecy
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