Fates Prophecy – o baterista Sandro Muniz fala sobre a carreira da banda

Nas últimas três décadas o heavy metal sofreu muitas transformações. Vários novos segmentos surgiram na cena mundial. Mas, muitas bandas, inclusive brasileiras, mantiveram-se firmes no modelo de metal forjado por medalhões como Iron Maiden, Judas Priest, Saxon, Accept, Diomand Head dentre outros. E, por conta de novas tendências, como o thrash, death, doom, prog e outros, o padrão de heavy metal concebido na segunda metade dos anos 1970, ganhou o rótulo de tradicional. E no Brasil, um dos maiores representantes desta escola é a banda paulistana Fates Prophecy. Após completar mais de duas décadas de atividades, a banda lançou ano passado seu quarto álbum, “The Cradle of Life”. Para falar um pouco da trajetória da banda, o último disco e os planos futuros, a Ready to Rock conversou com o baterista Sandro Muniz.

 Ready To Rock - O Fates Prophecy está completando praticamente 23 anos de carreira. Quando começaram quais eram as expectativas da banda? Acredita que atingiu seus objetivos?
Sandro Muniz- Na verdade não conseguimos atingir todos os objetivos que queríamos, mas com certeza chegamos a um nível do qual foi superior ao que esperamos (levando em condição o mercado atual da música pesada) afinal estamos a mais de 20 anos na ativa, quatro álbuns lançados, participação em um tributo americano ao Iron Maiden, muitos shows pelo Brasil e ainda temos muita lenha pra queimar.
RR - “The Cradle of Life” é o quarto álbum da banda. Gostei muito do nível das composições. Como se deu a produção do disco?
Sandro - Esse foi o nosso primeiro trabalho aonde a produção foi toda da banda. Desde o início a ideia era de produzirmos o álbum justamente porque queríamos fazer algo muito criterioso, não importando o tempo que levasse para compor e gravar, trabalhando com um produtor seria mais difícil de conciliar agendas e de fazer tudo como queríamos. A questão de produzir no final é bem mais difícil, pois o Paulo e o Fernando acabaram tendo bastante trabalho além da parte deles como músicos. O Paulo sempre se interessou por todos os aspectos da gravação dos nossos álbuns anteriores, ele só não tinha um conhecimento tão grande na parte técnica e operacional, então foi um desafio nesta parte, também no sentido de tentar extrair o melhor de cada músico da banda e principalmente em fazer com que o álbum tenha um padrão alto de acordo com a banda, mas acredito que o Paulo e o Fernando fizeram um bom trabalho neste sentido.

RR -  Músicas como “24-7 To Death” e “Unbeliever” mostram um Fates Prophecy diferente, apostando num andamento mais veloz. Essa mudança foi algo que vocês sentiam necessidade?
Sandro - Na verdade sempre tivemos músicas rápidas nos nossos álbuns, exemplo disso são as músicas “Time to Live” e “The Preacher” (do álbum “Into the Mind”), a “Beast Within” (do álbum “Eyes of Truth”) e no álbum “24th Century” temos as músicas “Insomnia” e a “Beyond Good and Evil”. Nós simplesmente mantivemos as características básicas do Fates Prophecy.

RR - Já “Resurrection”, a “Prayer to the Sun” e “Devil is my Name” mostram aquele lado cadenciado e tradicional da banda. “Primitive Man” flerta com o hard-rock. Fale-nos um pouco dessa boa dose de variação nas harmonias.

Sandro - O álbum é baseado no tradicional mesmo, porém é bem diferente de tudo que já fizemos. A banda sempre teve uma preocupação em ser atual, desde a parte lírica até sonoridade, então o álbum tem basicamente a identidade da banda, mas ao mesmo tempo está soando bem diferente, mais pesado em alguns momentos e em outros com texturas e climas diferentes dos álbuns anteriores.

RR - O CD físico traz o cover do Crimson Glory, “In Dark Places”. (N.E. no álbum anterior a banda fez uma versão para “Rock You Like a Hurricane”, do Scorpions). Porque a escolha dessa música?
Sandro - Na verdade esse cover foi gravado para um álbum tributo ao Crimson Glory que seria lançado na Europa, e a escolha da música já veio deles, foi um fã nosso na Europa que nos colocou na jogada, e gostamos bastante do resultado final. Os vocais dessa música inclusive foram gravados por um vocalista/amigo nosso, o Paulo Lara (ex-Cromlech, de Rio Preto, hoje o músico é radicado nos EUA). No álbum anterior gravamos o cover do Scorpions sim.
RR - Como você sentiu a repercussão do vídeo “New Degeneration”?
Sandro - O vídeo foi muito bem recebido pelos fãs, pelo público em geral e a mídia especializada. Levando em consideração que o vídeo assim como o álbum foi todo produzido pela banda. Ele foi filmado pelo baixista Rodrigo Brizzi e a esposa dele, a Debora, e foi todo editado pelo Rodrigo.
RR - O álbum foi inicialmente disponibilizado para download, para depois sair em formato físico. Como foi essa experiência? Seria o formato ideal pra quem faz músicas nos dias de hoje?
Sandro - O formato ideal com certeza é sempre o físico. O público em geral, e principalmente os fãs de metal sempre preferem o material físico, eles colecionam, compram, gostam de devorar o encarte. Quando o álbum ficou pronto, as propostas que recebemos para lançamento não foram do nosso agrado e se fosse para dar o álbum de graça para alguém que fosse para os fãs, por isso o disponibilizamos na época até fecharmos contrato com a Arthorium Records, que lançou o álbum da maneira que queríamos.

RR - O disco saiu oito anos depois do "24th Century". Porque um hiato tão grande?
Sandro - Nós queríamos ter lançado esse álbum muito antes desses oito anos, mas vários imprevistos aconteceram, entre horários de estúdio, gravação entre tantos outros fatores, até mesmo internos na banda, e outros contratempos que ocorreram individualmente com alguns integrantes na época, como separação, nascimento de filhos.


RR - Quem mais compõe na banda?
Sandro - O Paulo Almeida é o compositor principal da banda, 98% do material composto pela banda foram feitos por ele e algumas parcerias com outros integrantes.

RR - Como anda o movimento do Fates em termos de shows?
Sandro - Shows atualmente tem sido um assunto delicado. Convites nós recebemos todas as semanas, mas propostas de shows de verdade são poucas. Não somos “estrelinhas”, mas depois de 20 anos com certeza não fecharemos shows sem a condição básica (cachê + transporte + alimentação). Com isso a agenda acaba não sendo como gostaríamos que fosse, mas temos certeza de que o mercado vai melhorar agora em 2015, já temos algumas datas em negociação.
RR - Qual projeção você faz do futuro da banda?
Sandro - Para 2015 pretendemos continuar fazendo shows divulgando o álbum “The Cradle of Life” e queremos já começar a trabalhar com material novo.
RR - Por muitos anos, várias pessoas diziam que a música Fates Prophecy se assemelhou muito ao trabalho do Iron Maiden. Como você lida com isso? De forma elogiosa ou ofensiva?
Sandro - Para nós sempre foi um elogio sermos comparados a uma das maiores, senão a maior banda de heavy metal de todos os tempos. Nunca nos incomodou, Iron Maiden sempre foi uma influência dos músicos da banda, mas basta ouvir os quatro trabalhos do Fates Prophecy e você verá que essa semelhança ficou lá no primeiro álbum, nós conseguimos construir a nossa própria identidade.
RR - No começo da história da música pesada no país, lá pelos idos dos 1980, os fãs curtiam "rock pesado" e não havia tanta subdivisão. Trinta anos depois, tudo se dividiu, até o tipo de público. Você acredita que aquele espírito de união ainda voltará um dia na cena?
Sandro - Na verdade não acho que a união se desfez, mas como temos tanta subdivisão, como acontecem eventos de heavy metal todos os finais de semana, é normal o público também subdividir, isso aconteceu naturalmente. A diferença que vejo hoje que é muito mais clara é a falta de interesse do público pelas bandas nacionais. Nos anos 80 as pessoas iam aos shows muitas vezes sem nem saber quem estaria tocando, mas iam no intuito de conhecer a cena, me lembro bem dos shows no Black Jack (casa paulistana dos anos 80/90) onde sempre tocávamos e a casa estava sempre cheia, tanto de fãs da banda quanto público novo. Hoje as pessoas não saem de casa para ir a shows e as que saem, como falei antes, estão sempre acontecendo muitos shows ao mesmo tempo e isso acaba pulverizando o público.



RR- Como você enxerga o momento das bandas de metal tradicional no Brasil hoje em dia?
Sandro ­- Eu vejo o mesmo que sempre vi, temo altos e baixos como sempre                tivemos, nunca achei que houvesse o momento certo, mas se o trabalho de uma banda    de metal tradicional for bom, indiferente da época, o público vai querer, vai comprar, vai      ouvir.
RR - Fique à vontade pra deixar um recado aos nossos leitores.

Sandro - Gostaria de agradecer a você Júlio e ao Ready to Rock pelo espaço cedido para podermos falar um pouco mais da nossa trajetória. Agradecer aos nossos fãs, pois sem eles não estaríamos aqui até hoje e agradecer a todos que estão lendo essa entrevista, é por vocês que estamos na ativa e com certeza ainda estaremos por quanto tempo tiver público, sem vocês a cena não existiria, por isso nosso MUITO OBRIGADO. See you on the road...!!!

Contatos com a banda no link: https://www.facebook.com/fatesprophecy

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